Solo Talks EP02: O diretor de fotografia na publicidade

com Cristânia Kramatschek

Neste episódio do Solo Talks, Henrique Sommer e Guilherme Rohr conversaram conversamos com a diretora de fotografia Cristânia Kramatschek, que falou sobre como é a sua função dentro de um set de filmagem e como um diretor de fotografia pode imprimir o seu conceito estético visual em um filme ou de uma peça publicitária.

O que faz um diretor de fotografia?

Cris: O diretor de fotografia é, para mim, o cara mais importante (risos). Ele é o braço técnico do filme. Tem o diretor, que tem o conceito ideal do filme e tem diretor de foto, que tem o conceito visual do filme. Ele é responsável, junto com o diretor, de fazer o storyboard, definir os planos, os movimentos de câmera. É responsável pela diária, pelos equipamentos que vão ser usados na diária, pelas luzes, por definir as cores e como essas luzes irão se comportar sobre essas cores, sobre a maquiagem, sobre o figurino. Além disso, ele escolhe a equipe técnica que vai trabalhar com ele. O gaffer, o eletricista, o maquinista, a equipe de câmera.

O que é o gaffer e o que é a maquinaria?

Cris: Maquinaria são todas as ferramentas, estruturas, equipamentos que possibilitam gravar algo. Por exemplo, colocar uma câmera no teto e fazer ela viajar, isso é maquinaria. Daí tem os eletricistas que fazem a eletricidade ser levada para as luzes e fazer tudo funcionar. E o gaffer é o cara que une esses dois grupos. Ele conversa diretamente com o diretor de foto e reúne todas as informações numa pessoa só. Ele é o braço super técnico do diretor de fotografia, ele responde por tudo e resolve todos os problemas que acontecem no set no dia de gravação.

Como o diretor de fotografia pode construir o conceito visual de um filme?

Cris: Eu fiz um estudo do filme Roma, do Alfonso Cuarón, e vou falar sobre ele. Acho que é uma boa forma de falar sobre as escolhas da direção de fotografia. O Cuarón é o diretor nesse filme, mas também fez a direção de foto. A história é sobre o massacre que aconteceu na Cidade do México nos anos 70, em que o diretor era criança. Então, ele resolveu contar uma história autobiográfica dele e da sua família a partir do ponto de vista da empregada doméstica indígena, algo muito comum no México.

A escolha técnica dele foi: “Ah, vou falar um filme do passado. Então vou fazer em preto e branco, mas vou fazer um preto e branco com as capacidades técnicas contemporâneas. Vou fazer um preto e branco digital.” Então resolveram gravar em colorido e transformar em preto e branco na pós, para ter uma característica digital, sem muito contraste.

Além disso, ele escolheu usar uma lente com abertura 5.6, porque ela dava a uma certa profundidade de campo e possibilita um foco no fundo, não deixando o fundo borrado. Ele queria contar uma história que se passasse na frente no fundo, pois não estamos olhando só o personagem principal,  estamos olhando a história que se passa atrás dela, a história do México. Porém, essa abertura 5.6 fazia com que entrasse pouca luz na lente e por causa disso ele tinha vários “problemas técnicos” , já que precisava de muita luz para iluminar as cenas. Assim, a produção alugou spots de luz do México inteiro, quase tudo que tinha no país, para poder realizar o filme como o diretor de foto queria.

A casa da família era um personagem importante na história e havia várias cenas nela. Mas para iluminar essa casa com uma lente escura, tinham que colocar muita luz, só que tinha que parecer uma luz normal, de dentro de casa. Então eles tiraram todo o teto e construíram caminhos ao redor da casa com andaimes. Tudo isso foi pensado pelo diretor de fotografia e realizado tecnicamente pelo gaffer e sua equipe técnica.

Henrique: O que eu estou percebendo, é que o diretor de fotografia precisa ter um equilíbrio entre o técnico e o artístico. Então podemos pensar: “por que não escolheram gravar essa casa de outra forma?”. Porque não. Porque era uma escolha artística. Então eu não enxergo como um “problema técnico” e sim uma “demanda técnica” que ele precisa resolver para suprir essa parte artística.

Diretor de fotografia na publicidade.

Guilherme: Indo para a publicidade, a luz pode deixar uma pessoa muito mais bonita do que ela realmente é ou muito mais feia. Ou pode enaltecer os pontos fortes de um produto e esconder os fracos.

Cris: Essa é minha vida (risos). Eu trabalho com publicidade e nela a gente precisa vender um produto, vender uma ideia. Então o destaque é sempre a beleza e sempre aparecer bem o que queremos vender. Na fotografia still de moda, por exemplo, é tudo muito lavado. A coisa da luz dramática, de alto contraste acaba não vendendo, pois o produto precisa aparecer bem em toda a sua totalidade e tu só tem que mostrar tudo em uma foto só. No vídeo tu até consegue colocar planos que tenham sombras, contraste, um contra luz, e consegue construir uma narrativa. Mas o produto ainda precisa aparecer bem.

Onde você busca inspiração?

Cris: Eu busco inspiração no mundo das artes, eu sou formada em Fotografia e tenho uma Pós em Artes, então procuro trazer esse background no meu trabalho. Quando a gente trabalha com publicidade a gente vive meio que em dois mundos. Eu gosto muito de tentar achar esse equilíbrio, de puxar com uma mão das artes e puxar com a outra da publicidade. Também busco inspiração na música, pois quando ela invade e tu não controla. A música te produz emoções, que te produzem imagens e a partir daí tu começa a criar. É isso que eu acho maravilhoso da fotografia. Tu ter essas emoções e ter o conhecimento técnico para imagem mental existir no mundo.

Uma vida para a fotografia.

Cris: tudo que a gente vê num cinema ou num comercial, foi completamente pensado, desenhado e construído previamente. Se algo no set der errado, é responsabilidade do diretor de foto. Então eu tenho muita admiração por esses grandes diretores, porque é muito difícil criar todo conceito, acompanhar todo processo e resolver todos os problemas que acontecerem no set no dia da gravação. Mas é um difícil prazeroso (risos). Eu me vejo velhinha trabalhando, escolhendo os projetos e pensando: “como vou gravar aquele take sem precisar subir aquela escada” (risos). Me vejo fazendo isso até a minha morte, não existe aposentadoria. É o meu lugar no mundo.

Para encerrar, o que é fotografia para você?

Cris: fotografia é fazer tecnicamente uma imagem da forma como eu vejo o mundo e mostrar para as outras pessoas. Eu tenho um pensamento em forma de imagem e eu quero que os outros saibam como é esse pensamento, usando o conhecimento técnico para poder fazer isso. Para mim, isso é fotografia.

 

Siga a Cris em @cristaniakramatschek e no seu site www.ckestudio.com.br

 

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O Estúdio Solo é uma Produtora de Filmes e Animações 2D, 3D e live action. Ajudamos marcas nacionais e internacionais com soluções criativas para potencializar qualquer estratégia de comunicação através da produção audiovisual.

Apresentação e edição: Henrique Sommer

Pauta: Guilherme Rohr

Gravação: Single Produtora

 Arte: David Rabello. 

Críticas e Sugestões escreva para contato@solo.vc.

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